Ilha do Medo

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Michelle Williams, Max Von Sydow, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jack Earle Haley

Shutter Island, EUA, 2009, Suspense, 138 minutos, 16 anos

Sinopse: Em 1954, uma dupla de agentes federais (Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo) investiga o desaparecimento de uma assassina (Emily Mortimer) que estava hospitalizada. Ao viajarem para Shutter Island – ilha localizada em Massachusetts – para cuidar do caso, eles enfrentam desde uma rebelião de presos a um furacão, ficando presos no local e emaranhados numa rede de intrigas.

Se eu assistisse Ilha do Medo sem saber quem estava por trás das câmeras e, ao final da sessão, me perguntassem quem é o diretor do filme, eu certamente faria uma lista de vários nomes. No entanto, nunca colocaria o nome de Martin Scorsese. Ao menos para mim, esse mais novo longa-metragem do diretor é diferente de tudo que ele já realizou. Aqui ele abondona o conhecido estilo policial e aposta em um suspense psicológico. As mudanças de Scorsese trazem resultados posivitos e negativos – mas, acima de tudo, uma experiência diferente da filmografia dele.

Fica bem claro, em todos os aspetos, que Ilha do Medo tem a intenção de abranger um público maior do que o habitual para o diretor. A história é de suspense, o trailer apontava um filme com tom comercial e o pôster apostava em uma atmosfera nebulosa e sombria. Todo o marketing do filme apelava para uma maior aceitação do público (e vale lembrar que aqui no Brasil recebeu um título ainda mais sedutor para as grandes massas). O resultado foi certeiro: a maior bilheteria de toda a carreira de Scorsese.

Ilha do Medo tem um elenco que é difícil de rivalizar. Leonardo DiCaprio é quem encabeça a lista de atores. Ele está se tornando cada vez melhor e nesse filme ele alcança mais um ótimo nível – e como prova podemos citar a cena em que é revelada a verdadeira história de seu personagem com sua mulher e filhos, que é uma sequência devastadora. Enquanto Mark Ruffalo aparece pouco interessante, outros atores possuem participaçoes muito dignas – sir Ben Kingsley e Patricia Clarkson, por exemplo, estão excelentes em suas respectivas representações.

Mas se o elenco funciona e a parte técnica é ótima (a reconstituição de época é impecável), o roteiro já não flui tão bem assim. Sempre achei que Scorsese realiza bons filmes (mesmo que eu o considere superestimado), mas são filmes que nunca alcançam um resultado 100% no roteiro. Ilha do Medo começa a engrenar só depois da metade e ainda tem o defeito de possuir um final que dá para deduzir nos momentos derradeiros. Claro que não dá para tirar os méritos da resolução, já que esses filmes sobre pessoas que tentam provar que não estão loucas sempre são bombas (lembram de Os Esquecidos, com a Julianne Moore, que era até um bom filme mas tinha um desfecho deplorável?). Mas Ilha do Medo não se conclui de forma tão satisfatória.

Aliás, é um caminho tortuoso para o filme se desenvolver. Durante boa parte fica a impressão de que o filme não sabe onde quer chegar – a primeira hora chega a ser tediosa. O roteiro, ao mesmo tempo em que procura atingir o grande público com tons de investigação e suspense, também aposta em encenações mais artísticas que não funcionam para esses espectadores. Aquelas imaginações do personagem de DiCaprio com a esposa são lindamente dirigidas, mas infecientes para essas pessoas. São cenas que chegam, inclusive, a quebrar o ritmo que estava sendo alcançado.

Portanto, Martin Scorsese ficou no meio do caminho com Ilha do Medo. Não chegou a impressionar, mas também não abraçou o nível da decepção. É um filme que tem uma intriga bem amarrada, uma boa direção, um elenco apropriado e uma parte técnica exemplar. Mas, infelizmente, é um produto que não cativa. Mudanças fizeram bem para Scorsese, que agora mostra que sabe realizar filmes não tão voltados para o público artístio da sétima arte. Mas, por isso mesmo, ao se desviar de suas estruturas, ele não tenha sido tão bem sucedido em suas escolhas.

FILME: 7.5


12 comentários em “Ilha do Medo

  1. O filme so e bom porq tem o Leonardo picon lindooooooooooooooooooooooooooooooooo

  2. Confesso que nunca fui muito fã de Leonardo DiCaprio, mas em a Ilha do medo ele me surpreendeu. Gostei bastante do filme, mas confesso e concordo com você que nos meados do filme ele se torna tedioso mas mesmo assim tem um suspense gostoso que nos prende a atenção fazendo assim ficarmos até no final. Previsível no fim mas interessante! Vale a pena conferir!

  3. Mas afinal, qual é a verdade?? Di Caprio é Teddy Daniels ou Andrew Leads?? O “amigo” é realmente um delegado ou é o médico “terrorista”?? hehe. Me perdoem se minha pergunta parece boba, mas é q sou do tipo de cinéfila de sofá, não entendo técnicas roteirísticas!! hahahaha. Mas, de qualquer maneira, achei um ótimo filme!! Bem intrigante e de suspense na medida, embora concorde com o fato de ele ser meio sem graça até sua metade e de que o final tenha sido um tanto quanto previsível e, ao menos para mim, sem desfecho. rsrs.

  4. Reinaldo, não vejo o filme com tanto entusiasmo.

    Fábio, eu não sou muito fã de Scorsese, mas mesmo assim não achei esse nem perto de ser um dos seus melhores trabalhos. Dos mais recentes, ainda prefiro “Os Infiltrados”, por exemplo.

    Lucas, não acho que um diretor de verdade tem que ter mais forma do que conteúdo. E seria legal ver Clarkson indicada ao Oscar. Mas nós estamos tão longe da premiação… Acho que nem existem chances para ela.

    Wally, para mim, o DiCaprio é o que existe de melhor no filme, junto com os outros ótimos atores.

    Luiz Henrique, é um trabalho diferente mesmo… Contudo, ainda prefiro aquele velho estilo do Scorsese.

    Roberto, curioso você admirar “Gangues de Nova York”, já que é um filme que até mesmo os fãs de Scorsese não curtem muito. Eu o considero subestimado, já que não vejo razões para ele ser criticado e aquela chatice chamada “O Aviador” ser levada às alturas.

    Kamila, exatamente. O problema foi a previsibilidade do roteiro.

    Mayara, é curioso esse filme justamente por ser de Scorsese, mas não necessariamente é algo marcante.

  5. Eu gostei da atmosfera de suspense e sombria do filme. Da parte técnica, especialmente edição de som, direção de arte, trilha sonora e figurinos. Da performance do DiCaprio. Entretanto, o que acabou esse filme, pra mim, foi a previsibilidade do roteiro!

  6. Filmaço! Ainda acho o melhor da parceria Scorcese/Dicaprio o Gangues de Nova York (para mim, uma obra-prima), mas amei Ilha do Medo (principalmente pelo fato de ter lido o romance do Dennis Lehane). Já estou no aguardo de mais uma adaptação de uma de suas obras. Estou sabendo que seu último livro – “Naquele Dia” – será filmado pelo Sam Raimi. Que venha!

  7. Pessoalmente achei um dos melhores filmes do Scorsese, e até pouco tempo – precisamente até assistir a “A Estrada” – eu achava que era o melhor filme do ano, até o momento. Não só pela já citada mescla de referências no roteiro e pelas atuações caprichadas, mas pelo ineditismo do diretor, pois fez algo totalmente fora da sua linha de ação e foi muito feliz, acertando em cheio. Por mais que seu final seja dedutível, é uma diversão diferenciada, tensa e acima de tudo, brilhante.

    Um abraço!

  8. Gostei um pouco mais de você. Reconheço que “faltou algo”, como a maioria já sugere, mas adorei o que Scorsese arquitetou e vibrei completamente com as engrenagens da história. DiCaprio está excelente.

    Nota 8.5 [****]

  9. É aquilo no que Scorsese é bom: a forma mais importante que conteúdo, ou seja, um diretor de verdade.
    O roteiro não é grande coisa, mas em filmes assim isso não é importante, pois se prestarmos atenção apenas na revelação final e não em como tudo foi construído para chegar até ali (mérito da direção), com certeza não entraremos naquilo que Scorsese queria, que nada mais é do que é um exercício de gênero, algo muito parecido com o que ele fez em Cabo do Medo.

    Mas se quiser prestar atenção no roteiro, seria interessante rever o filme, tem coisas muito interessantes com relação a ele, principalmente no começo que já nos dá indícios do que viria a seguir (personagem do Ruffalo não saber tirar a arma do coldre, os sapatos da personagem de Mortimer, etc).

    Seu melhor filme desde Cassino, acredito. Minha nota com certeza seria maior.

    E já começo uma campanha para Clarkson no Oscar. Se Viola Davis pode ser indicada por 5 minutos, Clarkson também pode e ainda ganhar.

    Falow.

  10. Absurdamente o melhor Scorsese desde muito tempo, talvez desde Cabo do Medo ou Cassino, uma mescla de referências ao filme noir, a Lang, a Hitchcock, a Kubrick. Como lembrou um conhecido, ele traça um paralelo entre violência e insanidade como contagiosas, algo que faz parte do seu cinema desde a fase do cinema sujo novaiorquino dos anos 70. E Nietzsche iria se esbaldar aqui.

    As referências, aliás, são mais geniais do que as cenas maravilhosas, que no fundo são apenas a síntese de uma carreira inteira de um cara que sabe como e quando encaixar um travelling sem parecer meramente oportunista.
    A impressão maior é justamente a de que desde os primeiros minutos a gente vai sendo empurrado aos poucos para o delírio, desde os primeiros diálogos na balsa. Aliás, a segunda fala dele, agora, tem um significado que só amplia a genialidade dessa condução.
    Não há surpresas para o olhar atento, apenas um diretor discorrendo sobre temas bem pessoais com uma calma na condução que poucos podem fazer. E o final, com aquele aceno de cabeça do Rufallo e a entrega do personagem – que é absolutamente pensada e calculada para apagar o passado – é genial. Simplesmente um auto-sacrifício inflingido pelo próprio personagem, seja pela edição que une as duas sequências finais, pela reação do Rufallo, pela expressão do DiCaprio e pela frase que ele diz… Não existe dubiedade como alguns teimam em querer ver, como se o Scorsese quisesse ser misterioso. Quer nada, ele tece sua direção nas primeiras frases.
    As intervenções da memória do DiCaprio são o próprio filme, ou a própria razão de ser dele, e o filme não teria sentido sem elas. Mas eu imaginei que leria reações como essas, falando em como ele “entregou a surpresa” ou em como ele freou o ritmo do filme de suspense e investigação dele. É uma maneira muito simplista e com pouca visão de ver um filme de tantas camadas.
    É um filme avançado demais para platéias acostumadas a reviravoltas, finais surpresas e cenas de ação com trilhas de batida de bateria.

    Te aconselho a ver o filme novamente prestando atenção a essas referências e a toda a construção de sentidos. Principalmente agora, que já sabe o final.

    Tava escrevendo o texto pro blog quando li seus comentários sobre o final, sobre o roteiro defeituoso, yada yada yada. Tinha que escrever aqui.

    Abraço

  11. Olha Matheus, sinceramente, achei esse um filmaço. Não pelo final (em certa parte previsível), e que embora sua critica tenha insinuado, não é assim tão conclusivo (uma das belezas do filme). Achei o filme um filmaço, justamente por Scorsese. Um excelente trabalho de direção. Transformou um roteiro banal ( e cheio de problemas, como vc bem observou) em algo fluído e cheio de momentos para deleite cinéfilo. Se ilha do medo impressiona, com atores, parte técnica, plots e subplots, tudo é mérito desse ítalo americano arretado. rsrs

    ABS

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